19 de janeiro de 2010

Indústria de multas ou de impunidade?

Se o país é conivente com a corrupção, muito dessa conivência a gente aprende no trânsito. Ou vice-versa


Na semana passada, a prefeitura divulgou que registrou um recorde de arrecadação com multas de trânsito. Vi na TV uma reportagem em que a jornalista mostrava um cruzamento com um agente da CET passando a caneta. Troca o agente e o outro continua passando a caneta. De repente, a repórter fala com o agente: "Não vi você orientando ninguém!" Como? Não havia nenhum acidente, apenas um cruzamento com os veículos fluindo normalmente. Ela queria que ele orientasse o quê? Que o agente gritasse para o motorista sem cinto colocá-lo? Para que o motorista com celular na mão o desligasse? Que o motorista furando o rodízio desse meia volta? De um lado, os agentes da CET tentando colocar ordem na bagunça, do outro, milhões de motoristas irresponsáveis pedindo "orientação e bom senso" para poderem continuar cometendo infrações. Daí o agente, que tem como trabalho coibir as infrações, vira vilão só porque nossos motoristas são horríveis e mal-educados.

"Ah, mas antes de multar tem de educar..." Mas isso não foi feito? Quando o motorista tira sua habilitação não tem de passar por 45 horas de curso teórico e 20 horas de curso prático? Sabemos que, devido à corrupção que impera no processo de habilitação, com um pouco de dinheiro uma pessoa que nunca pegou num veículo tira sua carta, mas aí é problema dele. Em tese, quem tem carta já está habilitado e sujeito às punições no caso de descumprimento das leis. Crianças, sim, precisam ser orientadas sobre o que é certo ou errado. Mas motoristas? Fiquei muito irritado ao ver a reportagem. Acho um absurdo as pessoas defenderem a impunidade no trânsito. No meu ponto de vista, se este país é tão conivente com a corrupção, muito dessa conivência a gente aprende no trânsito. Ou vice-versa.

Sem contar que, graças à impunidade no trânsito, temos muita agressividade. Você, motorista, diga a verdade: o que o deixa mais nervoso? O trânsito congestionado ou aquele motorista "esperto" que só pensa em levar vantagem sobre os demais? Não dá vontade de fazer "justiça com as próprias mãos"? Portanto, senhor motorista, antes de pedir "bom senso" a um agente da CET, aja você mesmo com bom senso, respeitando as leis de trânsito. A cidade e os agentes agradecem.

Indústria de multas ou de impunidade?


(André Pasqualini, Diretor-geral do CicloBR (andre@ciclobr.com.br)) 

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