23 de março de 2009

Governabilidade, pra que te quero?


A postagem a seguir é de mais um colunista especial, um amigo que tenho o prazer ao longo de alguns anos discutir sobre política. Esse será o nosso colunista político.

Só para enfatizar: São essas postagens dos amigos(colunistas especiais) que vão me dá o prazer de escrever textos para o blog.

O texto a seguir é de Dalton Lopes!Um filósofo - como diz nosso amigo Denis Almeida.

O assunto é bastante interessante e bem escrito, leia e comente!

Por Dalton Lopes


Quem acompanha o noticiário deste grande circo chamado política nacional já deve ter se deparado com o pomposo nome “governabilidade”. Diz-se que, para que qualquer governante possa empreender seus planos de governo e lubrificar a máquina pública de forma a executar os projetos de que necessita a população, é necessário gozar de maioria parlamentar.

Apesar do pragmatismo deste corolário, ninguém em sã consciência poderá dizer que é razoavelmente possível obter êxito administrativo quando a maioria dos componentes do Poder Legislativo está interessada em ver o barco afundar. Além das negociatas e das concessões características da política brasileira, a estrutura institucional que dá sustentabilidade à nossa democracia tem como princípio a harmônia entre os dois poderes. Em outras palavras, na prática é necessário que o Legislativo seja uma extensão do Executivo. O que garante esta harmonia (que por sua vez implica na governabilidade), via de regra, é o sangramento dos recursos públicos. Infelizmente, o fato é que é imprescindível mesmo essa tal de governabilidade.

Os dois chefes executivos de maior poder no nosso Estado têm a felicidade de gozar da governabilidade. Porém, tanto o governo Cid Gomes (governador do Ceará) quanto Luizianne Lins (prefeita de Fortaleza) apresentam resultados práticos pífios. Por que, hein? Porque são governos eminentemente políticos, concentradores e de pouquíssima preocupação técnica. Se não, vejamos.

Comecemos pela “loira”. Luizianne é um exemplo de como a política dá voltas – e numa frequência inimaginável. Rejeitada pela própria ala majoritária do PT no início de sua primeira campanha eleitoral à Prefeitura, não só tornou-se prefeita como construiu uma larga base de apoio parlamentar. Um claro sinal do poder que ela acumulou é o fato de que nada menos do que metade dos cargos de primeiro escalão no município é da cota pessoal da prefeita. A outra metade está fatiada com os demais partidos que integram a base aliada. Detalhe: há um ou outro nome com perfil técnico. Apesar do ostracismo de suas ações à frente do Executivo, Luizianne foi reeleita com grande aceitação popular graças aos fraquíssimos concorrentes e à eficiente peça publicitária que soube vender o pouco que ela fez. Já ao assumir novamente a Prefeitura, pagou por ter conduzido sua gestão à simples acomodação de interesses: criou uma cobra chamada Tin Gomes, que deu-lhe um senhor chute na bunda ao eleger um presidente da Câmara contra a sua vontade. Como desgraça pouca é bobagem, Luizianne terá ainda que contemplar no seu segundo governo o nefasto PMDB, definido pelo próprio senador peemedebista Jarbas Vasconcelos como um partido que quer saber mesmo é de corrupção. Mesmo que Luizianne consiga controlar o ímpeto dos vereadores, suas ações continuarão apagadas enquanto a prefeitura for um cabide de empregos para os companheiros. Atualmente, os órgãos municipais estão ao léu. Ninguém manda em nada. Enquanto isso, cadê o secretariado, prefeita?

Quanto à governabilidade, Cid Gomes navega no mar da tranquilidade. No máximo duas almas isoladas contestam as decisões do Palácio Iracema. A maior bancada de deputados pertence ao PSDB, que teoricamente deveria adotar uma postura oposicionista, já que não fez parte da coligação que chegou ao poder. Acontece que fazer oposição não é do feitio do tucanato (por que será?) e, quando o clima começa a azedar, um chazinho com o governador é um santo remédio. Quem fica doente é a administração, que loteia o governo com cargos dados a nomes vinculados a facções políticas diversas e, comumente, com interesses conflitantes. Resultado: um governo sem unidade. Cid tem à frente grandes desafios, especialmente quanto à infra-estrutura do Estado, destacando-se a ampliação do Porto do Pecém e o Metrofor (que mais uma vez volta à tona, agora por causa da Copa do Mundo batendo à porta). Além disso, o governo acumulou nos últimos dois anos – às custas de arrocho fiscal no bolso dos cearenses - um caixa estrondoso. Cid costuma reclamar da burocracia estatal, atribuindo à ela a culpa pela ausência de projetos concluídos, mas não fala que o governo possui inúmeros cargos de alto escalão comandados por pessoas despreparadas. Planejamento, definitivamente, é uma palavra que passa longe. Pra piorar, o corpo técnico do Estado apresenta grandes baixas enquanto o governo alardeia um imenso pacote de obras para esse ano. A olho nu, nota-se claramente que o objetivo deste mandato é parir um segundo.

Esses dois exemplos caseiros deixam claro que não basta haver governabilidade para haver bom governo. É preciso planejamento, capacidade de gestão e visão integrada, três fatores que sempre serão deixados para escanteio enquanto os interesses políticos forem maiores que o interesse coletivo.


4 comentários:

  1. Que texto é esse hein?
    Simplesmente sensacional!
    Gosto muito do assunto política como todos sabem. E esse texto faz um resumo da política atual tanto no Estado, quanto em Fortaleza.
    Governabilidade é para ser qualidade de governar, mas como o Dalton falou governabilidade é fazer qualquer coisa para continuar no poder e conseguir reeleição e sempre continuar nos cargos públicos. Quando digo qualquer coisa vale tudo: fazer pacto com o Diabo, vender a mãe!

    Vou comentar o governo Cid, fica o da "Lôra" para outro!

    Cid Gomes é o senhor das Megalomanias!

    Ronda Quarteirão: está dando certo, mas um custo muito elevado! Acho desnecessário as compras de Hilux. Claro o programa em se é muito bom!

    Oceanário: 250 milhões, não tem outras prioridades? Não estou dizendo que é desnecessário, mas creio que temos que melhorar várias coisas.

    Centro de feiras: Maior do que o Anhembi! É necessário? Tudo bem que o centro de convenções não atende a demanda, mas será que não se criará um elefante branco?

    Projetos Copa 2014: E depois da Copa essas estruturas serão realmentes úteis para a população? Olhem o que aconteceuu no Rio com relação ao Pan.

    Portanto, nosso governador está fazendo coisas, mas bastantes duvidáveise compromentendo o estado futuramente para os próximos governos que terá que quitar as dívidas.

    É isso, em outras postagens comento mais sobre o assunto.

    Dalton, seja muito bem-vindo ao blog e espero mais postagense comentários.

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  2. Rpz, eu vou fazer coro com o Nauri. Sensacional! O "filho do Lula" continua afiado. Li umas duas ou três vezes. Mto bom mesmo.
    Acerca da governabilidade, vamos atentar para o fato de que, no executivo estadual, Cid Gomes é o primeiro a desfrutar dessa maioria na Assembléia. Nosso querido ex-governador Tasso Jereissati não dispunha dessa moleza e, nem por isso, o Estado ficou estagnado devido às forças oposicionistas. Logo, também é muito simplista se apoiar na necessidade de governabilidade para sair leiloando os cargos públicos em troca de apoio. Quando se cede a muitos interesses, fica-se refém deles e pode-se ter que abdicar dos próprios em função de uma base de sustentação, que passa a sustentar eu não sei mais o que, a não ser a si mesma, uma vez que o governo se descaracteriza. Esse é o retrato do governo do nosso presidente, aliás.
    Mas voltando ao cenário estadual, é uma pena que, apesar dessa base toda de sustentação e do alinhamento político das três esferas, o Ceará tenha se tornado uma "zebra" quando o assunto é a disputa de empreendimentos no Nordeste. Em tempos antigos, o Ceará era o primeiro da lista. Lula vem a Pernambuco até pra inaugurar carrocinha de pipoca!!! E pra completar, falta, como mesmo Dalton disse, visão de futuro, planejamento.
    Nossa prefeita, a despeito dos comentários de que ainda não indicou um novo secretariado, parece que paralisou a maquina toda por conta dessa indefinição. Há mesmo a necessidade de se indicar um novo secretariado?! Na dúvida, pra não ficar o vácuo, confirmava-se o atual secretariado até a indicação do próximo. Pelo menos evitava-se esse "ninguém é de ninguém".

    Só pra fechar, o Dalton deu um show mesmo.

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  3. Estreou em grande estilo, meu amigo filosofo! Bela analise do cenário político cearense, mas que não se restringe, de maneira nenhuma, ao estado do Ceara, (vide presidente Lula), nem tão pouco ao nosso Pais (pelo que tenho visto na Europa!). Talvez no Japão seja diferente...

    Grande abraço, Filosofo!

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  4. Que bom que gostaram do texto, galera. Espero continuar escrevendo aqui no blog. Sobre o tema propriamente dito, acho que o caso do governo Lula é um pouco diferente dos casos Luizianne e Cid, embora com muito em comum. Tentarei discorrer sobre isso em texto posterior. Por ora, um grande abraço ao “filho do Alckmin” e ao “Paulista”. Valeu!

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