31 de maio de 2009

O Pacto da Mediocridade


Por Dalton Lopes

Barack Obama não é o único a achar que o presidente Lula é o cara. Parcela significativa do povo brasileiro comunga dessa opinião, haja vista seu índice de popularidade avassalador. Em termos de realizações, os sucessos e os fracassos do governo petista são bastante claros e ambos estão intimamente ligados ao campo minado da governabilidade (sempre ela).

Na edição de 18 de março último, a revista Veja noticiou: “A tal base governista, que tanto suga cargos no executivo, não é lá muito firme. Um estudo feito pelos cientistas políticos Cristiano Noronha e Murilo de Aragão revela que o apoio médio da base nas seis votações mais importantes na Câmara em fevereiro foi de 43% do total de deputados. Em 2008, esse apoio havia sido de 52%”. Em outras palavras, o governo, apesar de se esforçar para movimentar o ciclo vicioso do toma lá dá cá fisiológico, colhe nesse campo um fracasso retumbante. Alguém consegue lembrar alguma matéria relevante aprovada pelo Congresso Nacional neste ano? Apesar de o presidente Lula, em nome da governabilidade, ter chutado o próprio PT nas eleições parlamentares, a eleição de José Sarney para a presidência do Senado e de Michel Temer para a presidência da Câmara são significou ganho imediato algum para o governo. Pelo contrário. O que se vê aos montes são escândalos éticos e legais envolvendo nossos notórios deputados e senadores.

A relação incestuosa com a base aliada rende ao governo enormes dores de cabeça. A maior delas se deu no primeiro governo e atende por mensalão, o esquema arquitetado para garantir apoio parlamentar mediante generosas mesadas distribuídas aos picaretas com anel de doutor. Resultado: a tão autoproclamada ética petista transformada em lama. Lula só escapou porque deixou os companheiros entregues ao vendaval. Baixada a poeira, era hora de abrir as pernas para o PMDB deitar e rolar. Configurou-se o novo mensalão: ao invés de dinheiro vivo, melhor dar um carguinho aqui e outro acolá. Se por um lado o governo começou a se desfazer da inoperância e da incapacidade administrativa do petismo no alto escalão, por outro deu lugar à bandalheira sem limites do partido que, nunca é demais lembrar da frase de Jarbas Vasconcelos, “só quer saber de corrupção”. Se dançaram Dirceu, Genoíno, Delúbio, Palocci, agora estão na crista da onda Sarney, Jader, Renan, Temer. Como diria o poeta, só mudam as putas e o cabaré é o mesmo. Aliás, o cabaré piorou. Ou melhorou, dependendo do ângulo de visão.

O lulismo deu ao Brasil uma saúde financeira macroeconômica que, nunca na história deste país, se viu. Deu ao povo brasileiro a possibilidade de, como nunca na história deste país, ter uma vida não tão cruel. Deu um plano de infra-estrutura que, apesar das zilhões de falhas, nos possibilitará alçar, como nunca na história deste país, vôos maiores nas próximas décadas. O lulismo, como nunca na história deste país, mostrou que nossos líderes são um mero reflexo do povo. Mas o lulismo poderia ter feito, como nunca na história deste país, muito mais. E não fez porque não teve capacidade, perspicácia e coragem de usar o seu maior trunfo: a popularidade que, como nunca na história deste país, um presidente jamais teve por essas bandas.

Lula foi incapaz de aprovar as reformas política, tributária e previdenciária – fundamentais para destravar uma série de gargalos que impedem o país de crescer sustentavelmente no ritmo que precisa para promover divisão de renda à margem de esmolas governamentais. E fracassou porque não promoveu o debate de idéias em torno da importância dos temas. Historicamente se sabe que o parlamento brasileiro só funciona quando a opinião pública chega junto, haja vista que o poder legislativo é, de longe, o mais “vulnerável” às denúncias da imprensa e ao brado popular. E quem poderia incitar a opinião pública a clamar que o Congresso fizesse a sua parte? Lula, o presidente que caiu na armadilha das “forças do atraso” e, ainda faltando um bom tempo para concluir o seu mandato, está mais interessado em eleger seu sucessor e manter o pacto da mediocridade.


Um comentário:

  1. Dalton,

    Você é um iluminado com as palavras!

    Apesar de não concordar com alguns pontos do seu texto sempre é um prazer lê-los.

    Você deve saber uma das pessoas que não acha o Lula (nosso ilustre presidente) "O cara" sou eu!
    Lula tem méritos? Com certeza! Burro seria de dizer que não, mas coloca-lo no patamar de bons gestores é querer demais.
    o diferencial dele foi muito bem destacado por você, chama-se POPULARIDADE.

    A economia desde o início do real conseguiu estabilidade, com exceção ao fim do mandato do FHC.

    Além disso, como os partidos de esquerda sempre fazem, teve a parte social.

    Falar de infra-estrutura é melhor parar seja no governo Lula ou FHC ou Collor/Itamar. O setor nunca foi prioridade, sempre com estruturas pontuais e NUNCA estev comtenplado no plano de governo. Então podem perguntar e o PAC/PNLT? Não me façam rir! Mesmo que fosse implatandas todas as obras descritas nesses programas ainda assim não seria um plano de infra-estrutura de governo, pelo simples fato dos dois programas apresentarem obras desconexas.
    Quem quiser saber mais sobre esses planos leiam e vejam o que está sendo feito.

    Infelizmente, não tenho a capacidade do Obama e da maioria de ver em Lula "O cara". O que diria Obama para Cid Gomes? Tb ele é o Cara? E para a Luizianne?

    No momento, creio que estamos avançando, mas não como o dito e cantado país a fora: NUNCA NA HISTÓRIA DESSE PAÍS...

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