6 de março de 2010

Estaleiro no Ceará?


A vinda do Estaleiro para o Ceará é bastante complicada e tem vários pontos a serem analisados. Sinceramente não tenho ainda posição contra ou a favor. A grande questão é que falta planejamento e estudo para comprovar que pode construir um estaleiro em Fortaleza ou se for construído em outro local ( no Ceará) terá (ou teria) o mesmo custo, caberia ao governo propor isso aos investidores! Vamos lá, Governador!

A seguir alguns trechos do arquiteto e urbanista Fausto Nilo, concedida ao Jornal OPOVO. A posição adotada pelo arquiteto é totalmente contra, tanto que o artigo do seu texto foi: “Estaleiro ou vida urbana compartilhada?

“As cidades têm características distintas que decorrem da evolução de processos naturais combinados com adaptações culturais. Os resultados desta mistura se traduzem em ruas, edifícios, espaços públicos, pontes, parques, orlas etc... Cada vez que acrescentamos um novo artefato ao sistema dos espaços urbanos, incrementamos ou subtraímos valor à forma existente...”


“O debate sobre a implantação de um estaleiro na praia do Titanzinho mostra que é chegado o momento em que Fortaleza precisa aderir ao padrão universal das boas práticas aplicando as técnicas urbanísticas de controle da alteração de valores com escala estratégica e visão sustentável.”


“Os estaleiros, juntamente com os portos e suas atividades relacionadas são componentes importantes dos negócios industriais em situação obrigatoriamente costeira. Entretanto, quando situados em zonas de orlas urbanas, não produzem os efeitos cruzados do padrão sustentável. Isso acontece porque predominam entre seus resultados aqueles de caráter econômico. Na literatura urbanística sobre requisitos e efeitos de usos industriais, estaleiros estão classificados como Usos Localmente Indesejáveis.”


“É por demais sabido que alguns usos do solo, ao se agregarem a vizinhanças podem resultar em desigualdade, injustiça, desperdício e até mesmo prejuízos urbanos colossais... A poluição sonora é insuportável. O intenso tráfego de cargas produzido pelas atividades relacionadas a ele será inevitável. Ninguém suporta a insalubridade de viver em proximidade de um estaleiro e isso pode ser constatado em todas as situações existentes no mundo.”


“A população fortalezense residente na área de influência da localização pretendida precisa ser informada com clareza sobre a potencial e inevitável alteração negativa de valores que ocorrerá em seus bens materiais e imateriais ao se tornarem vizinhos de um estaleiro naval. Uma vez confirmada a zona do Titanzinho como sítio de implantação do equipamento, gradualmente ela se especializará em um gigantesco distrito industrial pesado de uso único, o grande vilão ambiental das urbanizações metropolitanas.

A análise do Fausto Nilo é bastante focada e levando em consideração a parte social, urbanística e de qualidade de vida, além de outros fatores.

Primeiro ponto: Não sei se o estaleiro “irá subtrair valor a forma existente”, ou não “irá aderir ao padrão de boas práticas” ao instalar o estaleiro na região, até porque a região do Mucuripe até HOJE não tem projeto viável e recursos para adequação do Mucuripe e o seu entorno, e a baixa qualidade de vida da população do local não é apenas por está próximo do Porto, mas sim pelo descaso da Prefeitura de Fortaleza durante todas essas décadas que não implementou nenhum projeto para a região.

A localização de portos em áreas urbanas é comum, não só no Brasil, mas em todo o Mundo! É normal com as instalações de infraestruturas de transportes, no seu entorno sejam povoados tornando no futuro áreas bastante adensadas.


Segundo ponto: “desigualdade, injustiça, desperdício e até mesmo prejuízos urbanos colossais”, “Ninguém suporta a insalubridade de viver em proximidade de um estaleiro”, dentre outras citações de Nilo podem ser evitadas desde que a Prefeitura juntamente com o Estado e a União atuem de forma a definir a organização da área, que pode ser feita com ou sem o estaleiro. A questão de insalubridade, poluição e outros danos ao ambiente podem e devem ser evitados, basta cumprir os EIA/RIMA e que a fiscalização seja atuante.

Infelizmente não tenho o outro lado para citar e questionar, pois os argumentos apresentados pela parte a favor são bastantes superficiais, e sem algo aprofundado, embasado é melhor não discutir e esperar que apareçam posições fortes e com critérios.

Agrande pergunta a fazer é: Porque não pode ser construído em outro região do Ceará? E caso não seja no Ceará, os investidores cogitam ir para o RJ no interior localizado a mais de 200 km da capital, muito estranho isso!

Para terminar vale destacar a contribuição do PET/CIVIL da UFC que realizará um debate sobre o tema com os seguintes debatedores: Antônio Balhmann (ADECE), Erasmo Pitombeira (Eng. Civil) e José Sales (Arquiteto). No dia 10 de Março, as 10 horas no Auditório da Civil.

Espero que o debate seja de alto nível e que não apareçam “estudantes esquerdistas” para tumultar o debate o que não contribuirá em nada.

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